A imprensa brasileira tem um papel importante a desempenhar na preservação da cultura e dos povos indígenas brasileiros. Nos últimos dias surgiram graves denúncias da morte de crianças indígenas por subnutrição.
A questão exige um olhar atento. Vale lembrar que verbas públicas são destinadas para vários programas de saúde e alimentação dos povos indígenas. Mas, acompanhar essa questão não é uma missão fácil. O Sindicato dos Jornalistas de Dourados (MS) encaminhou mensagem ao O Jornalista, em que repudia tentativas lamentáveis de se evitar que a questão seja conhecida pelos que tem a missão de informar a sociedade.
Leia abaixo a manifestação do Sindicato dos Jornalistas de Dourados.
Jornalismo não combina com portas fechadas
(Nota de apoio e solidariedade aos jornalistas)
Um dos princípios do jornalismo é o direito à liberdade de expressão. E essa liberdade implica em direitos e deveres, obviamente, mas com a necessária responsabilidade social de quem assume o compromisso com a notícia, verdadeira, isenta, real. Assim, as imagens de crianças indígenas, expostas à desnutrição, mostradas pela Imprensa estadual, com repercussão nacional, não podem ser reduzidas ou vulgarizadas ao nível da invencionice.
Age mal, muito mal mesmo, o homem público que, ao assumir compromissos de zelar pela comunidade, e que recebe dela essa incumbência, tenta varrer o lixo pra debaixo do tapete e ainda culpa jornalistas pela própria inabilidade.
Ao tentar minimizar a gravidade das cenas mostradas pela imprensa no Centro de Recuperação Nutricional da Reserva Indígena de Dourados, esses homens públicos conseguiram apenas maximizar o problema.
O corre-corre da última sexta-feira, 28.01, por trechos enlameados das estradas da Reserva, na tentativa, frustrada mais uma vez, de despistar jornalistas – evitando encarar de frente a origem da denúncia, as crianças desnutridas – mostrou, novamente, a inabilidade do governante.
O desespero, ao longo da semana que passou, em produzir material de efeito propagandístico, alardeando benfeitorias promovidas em favor dos indígenas, acabou pecando pelo exagero, anunciando obras e serviços que só existem em forma de intenções, e provocando mais reações contrárias ainda.
E, para finalizar, as cenas patéticas patrocinadas pelo representante do Governo do Estado, o douradense Raufi Marques, que sempre ufanou-se em dizer que fora criado em meio à cultura indígena e daqui pode extrair bons ensinamentos, tentou mostrar como não se deve fazer quando existe um problema pela frente: mandou fechar as portas à imprensa e, a um público escolhido a dedo, responsabilizou essa mesma imprensa pelo descaso e o abandono a que são submetidas as crianças índias.
Os jornalistas de Dourados e do Estado que acompanharam essa situação, e que tiveram cerceado o direito de informar, sabem contrapor-se a essa situação, ouvindo sempre o outro lado, nesse caso, novamente os índios, já que os ditos homens públicos tentaram forjar um “outro lado” de fantasias coloridas, como se ainda fosse possível reproduzir a estória da colonização, que eles tentam perpetuar na máxima do “eu tenho o espelho, você tem o ouro”.
Só que, infelizmente, dessa vez, senhores, o ouro está reduzido à fome e à desnutrição. Só não vê quem não quer!
Sindicato dos Jornalistas Profissionais da Grande Dourados - Sinjorgran
Dourados, MS, 30 de janeiro de 2005.