O Exercício
Profissional do Jornalismo no Mundo
Vitor Ribeiro
vitor@ojornalista.com.br
A presente pesquisa visa apresentar um
panorama, das exigências para o
exercício profissional do jornalismo
pelo mundo e tem como objetivo contribuir,
para que o debate sobre o assunto não
fique prejudicado justamente por falta
de informação. A idéia
de realizar a pesquisa nasceu após
a constatação, de que não
havia um trabalho semelhante disponível
para consulta.
Como o Brasil é um país
de amplas relações diplomáticas,
o caminho natural foi procurar as representações
diplomáticas estabelecidas em nosso
país e realizar uma consulta formal
sobre as exigências para o exercício
profissional, na localidade representada.
Todos os países, com representação
diplomática no país foram
consultados. Alguns, que ainda não
estão representados aqui, também
receberam a indagação.
Para minha alegria, muitos países
dedicaram grande atenção
ao assunto. Várias embaixadas,
além de responderem oficialmente
à consulta, nos encaminharam livros,
documentos, e-mails, materiais explicativos,
consultaram seus estudiosos sobre o assunto
etc. Outros me ofereceram verdadeiras
aulas, sobre o processo histórico
ocorrido em seus países em relação
ao jornalismo. A todos agradeço
sinceramente e registro, que sem a colaboração
das representações diplomáticas
este trabalho não teria sido realizado.
Em sua maioria, uma solicitação
foi constante, querem e estão recebendo
a presente conclusão.
Não é demais agradecer,
mais uma vez, às embaixadas pela
atenção, ajuda e deferência.
Acostumados com pedidos de vistas para
trabalho, muitos inicialmente imaginaram
que o questionamento visava saber quais
as exigências para que um brasileiro
trabalhasse como jornalista em seus países.
Não foi este o mote da pesquisa.
O enfoque é as exigências
legais para os nascidos no país
consultado.
Vale lembrar, que primeiro nascem as
profissões, para posteriormente
as faculdades e universidades oferecerem
cursos superiores sobre aquela ciência
ou atividade. Com o jornalismo não
foi diferente. Primeiro surgiu a profissão,
depois os cursos de jornalismo. Portanto,
os que iniciaram a profissão não
tinham diploma de jornalismo em nenhum
lugar do mundo.
Hoje, o curso superior em jornalismo
existe nos quatro cantos do planeta e
a sua obrigatoriedade para o exercício
da profissão é uma exigência
legal verificada em muitos países.
Mas, mesmo nos locais onde não
existem leis específicas exigindo
o diploma, os formados acabam levando
vantagem na disputa por uma vaga no mercado
de trabalho. Onde o diploma não
é uma exigência legal, acaba
sendo uma grande preferência ou
mesmo uma exigência do mercado de
trabalho.
Portanto, vale esclarecer que o fato
de um país não ter uma lei
exigindo o curso superior em jornalismo,
para o exercício profissional,
não significa que os jornalistas
daquele país não cursem
uma faculdade ou não tenham pós-graduação
ou doutorado na área. O que a pesquisa
encontrou foi uma realidade bem diferente.
Nos Estados Unidos da América,
por exemplo, a maioria esmagadora dos
profissionais contratados cursaram uma
faculdade de jornalismo. Nos Estados Unidos
da América não há
a exigência do diploma em lei. Porém,
o país conta com 400 faculdades
e universidades que oferecem o curso de
jornalismo; 120 oferecem pós-graduação
na área e 35 oferecem doutorado.
Na Alemanha, existem duas grandes organizações
sindicais que representam os jornalistas
e não há exigência
do diploma em lei. Porém, segundo
Hermann Meyn, autor do livro intitulado
Massenmedien in der Bundesrepublik Deustschland
( Os meios de comunicação
de massa na Alemanha), "ambas as
organizações sindicais alemãs
estão tendo que constatar mais
e mais que a imagem do jornalista por
nascimento é uma ilusão".
O alerta que faço na presente
introdução, para evitar
equívocos, é de que a exigência
de curso superior em jornalismo é
uma evidência incontestável
no mundo atual -a despeito do país
contar ou não com uma legislação
específica. Trata-se de uma exigência
do mercado de trabalho. A famosa lei de
mercado. Esta situação chega
a casos interessantes, como o do norte-americano
onde os veículos de comunicação
raramente contratam alguém que
não tenha cursado uma faculdade
de jornalismo. As exceções
ficam por conta de especialistas, como
generais que escrevem sobre guerras; economistas
falando de negócios e casos semelhantes.
Aliás, como ocorre no Brasil, por
exigência legal.
Os sindicatos e outros organismos de
classe, também, têm atuação
forte e os códigos de ética
estão presente, mesmo nos lugares
que não contam com a exigência
do diploma em lei específica. A
presente pesquisa apresenta, resumidamente,
a situação nos países
que responderam os questionamentos feitos
sobre as exigências para o exercício
da profissão.
O resultado da presente pesquisa é
proveniente de consultas oficiais feitas
aos países e devidamente documentada.
Praticamente a totalidade das informações
foi fornecida por escrito, pelos representantes
diplomáticos dos países
consultados e encontram-se devidamente
arquivadas, como documentos oficiais que
são.
Criticada internamente por alguns e até
combatida judicialmente, a atual legislação
brasileira, vigente a cerca de 34 anos,
é vista em muitas partes do mundo
como um exemplo a ser seguido.
A Ordem dos Jornalistas Italianos defende
que a lei brasileira é avançada,
por exigir formação superior
no jornalismo. "Não pode haver
improvisação na formação
do jornalista", afirmou o presidente
da entidade italiana, Lorenzo Del Boca,
durante sua recente visita ao Brasil.
Segundo ele, as entidades de jornalistas
italianos estão se mobilizando
para elaborar um projeto de lei, nos moldes
da legislação brasileira,
a ser submetido ao Congresso italiano,
exigindo o diploma de jornalismo para
quem quiser exercer a profissão
por lá.
Já a Bélgica conta desde
1963, com uma lei chamada de reconhecimento
e proteção ao título
de jornalistas profissionais. Na prática,
institui multas de valores elevados e
punem baseados no código penal
do país os infratores da lei.
Hoje, a exigência de formação
superior em jornalismo está sendo
valorizada até em países
que não contam com faculdades de
jornalismo. Raro mesmo é o país
que não conta com faculdades de
jornalismo. O Reino de Myamar é
um deles. Mas, mesmo lá o curso
superior em jornalismo é valorizado.
O governo chega a enviar candidatos a
jornalistas, para obter o diploma na Índia
e Inglaterra.
Abaixo segue, por ordem alfabética,
a relação de países
com a respectiva situação
atual. Vale ressaltar que os dados foram
todos pesquisados no presente ano de 2003.
*Vitor Ribeiro - é jornalista
profissional MTB 21.208