Maremoto destrói tudo, menos os privilégios. O jornalista David Jiménez do jornal espanhol "El Mundo" escreveu uma matéria na qual relata que a Tailândia está concentrando seus esforços para ajudar as vítimas ocidentais do Tsunami e deixando de lado as aldeias pobres. "Se no afundamento do Titanic os primeiros lugares nas balsas de salvamento foram para os passageiros da primeira classe, nas costas da Tailândia as possibilidades de sobreviver também aumentam para quem tem um perfil concreto: turista, estrangeiro e hóspede de um dos hotéis de cinco estrelas da costa", escreveu o jornalista.
A matéria de Jiménez traz uma foto na qual mostra em primeiro plano dois turistas em férias, com cervejas nas mãos, e no fundo os efeitos do maremoto.
"A ajuda, o trabalho das equipes de resgate e de buscas dos desaparecidos do maremoto se concentra desde o primeiro dia nas zonas costeiras turísticas. Os hospitais de Phuket, uma das ilhas mais afetadas, oferecem os melhores lugares e seus mais modernos equipamentos para os estrangeiros que são sistematicamente atendidos primeiro e colocados nos primeiros lugares das listas de espera por uma vaga. Os pacientes mais graves são transportados para Bancoc, uma opção que não se dá aos nativos", afirmou o jornalista espanhol.
Em um abrigo improvisado para os turistas, em um colégio internacional, existem camas, televisão e até Internet e contrasta com as cenas de desolação e abandono das vilas pesqueiras de Phang Nga, onde os nativos tiveram que esperar mais de três dias até a chegada das primeiras equipes de ajuda, denuncia Jiménez.
Segundo o jornalista, os hotéis que não foram afetados pelo Tsunami foram utilizados para abrigar só os estrangeiros. "Não pedimos tratamento privilegiado, só queremos que nos ajudem porque estamos muito mal e perdemos tudo", disse um nativo no hospital de Takuapa, onde dezenas de feridos se encontram acampados, fala que o jornalista reproduziu na matéria.
Segundo relata a matéria do "El Mundo", uma vez passado o caos inicial, as primeiras operações de resgate se dirigiram aos grandes complexos hoteleiros da praia de Patong e dos bagalôs de Krabi. "Uma parte da sociedade tailandesa começou a perguntar-se e a perguntar ao governo, se é justo que seus cidadãos recebam uma atenção menor", afirmou o jornalista. Ele entrevistou um senador da província de Phan Nga, que expressou sua indignação e confirmou: "o governo deu mais atenção a zonas turísticas porque o povo da minha localidade é em sua maioria pobre".
Segundo a matéria do jornal espanhol, vários funcionários da Tailândia defenderam a "política do turista primeiro" diante da necessidade de preservar a indústria que gera a cada ano dez milhões de dólares.