*Nilda Rodrigues
Para a nossa mídia cara pálida, o índio brasileiro só é notícia pelo exotismo ou pela barbárie. Índio não é pauta. Hoje, existem cerca de 350 mil índios no Brasil e na grande imprensa não há espaço para os problemas e belezas desse povo. Agora, como no passado, esses povos continuam desprotegidos, à mercê do tempo, sem usufruir do poder que lhes é de direito.
Trabalho com populações indígenas há, aproximadamente, quatro anos, junto às organizações não governamentais. A queixa é sempre a mesma em relação à mídia: falta de interesse, de conhecimento dos povos, de suas especificidades e necessidades.
O indígena Maximiliano Menezes (Tukano) da FOIRN – Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro, reclama: “os meios de comunicação divulgam assuntos relacionados aos indígenas da forma como ela vê, com o olhar de uma sociedade diferente, sem perceber que a sociedade indígena tem sua especificidade étnica e cultural”.
Menezes comentou o programa Globo Repórter, que a TV Globo realizou na sua região. Para ele o programa que esteve no Rio Negro, “só fez entrevistas com os militares, igrejas etc. Ouviram outras pessoas falando de índio, não o próprio índio que é quem enfrenta no dia-a-dia os problemas com a saúde, educação... Acredito que os meios de comunicação deveriam buscar informações sobre os indígenas por meio de suas organizações ou com um diálogo direto com os próprios índios. Não queremos que o índio seja mostrado de forma negativa como a imprensa vem fazendo; temos muita coisa interessante, visões que podem contribuir para a sociedade também”.
As populações indígenas necessitam, principalmente, de uma política melhor de saúde pública. Os índios estão morrendo. No Rio Negro – AM, por exemplo, as comunidades estão sem assistência básica porque o repasse de verbas está atrasado há três meses e nada da imprensa noticiar. Enquanto isso, o índio continua sendo tratando como um extra-terrestre. Será que ainda existem índios no Brasil? Os consumidores da grande mídia devem ter esta dúvida.
Em 1999, o governo federal destinou 46 milhões para assistência básica à saúde dos povos indígenas, em 2004, foram 230 milhões. Se não pelo interesse com estes povos, a mídia cara pálida deveria ter interesse por todo este dinheiro público. Como ele está sendo utilizado? Está sendo devidamente aplicado? Ele chega até aos índios? O público da grande mídia concorda como todo este dinheiro está sendo gasto? Mas, nem isto acontece. Tudo é simplesmente ignorado, não existe e nada está acontecendo.
Ignorar as populações indígenas, também significa ignorar o trato de todo o dinheiro público que é destinado a estas populações. Senão por motivos mais nobres, nossa sociedade e nossos veículos de comunicação deveriam se preocupar pelo menos com este aspecto; já seria de grande valia. É preciso abrir os olhos para esta questão e principalmente dar voz a esta população marginalizada pela nossa mídia.
Quando converso com outros jornalistas sobre os indígenas, todos ficam interessados, mas nada publicam. Nunca há espaço. Convoco os colegas a refletir e abrir espaço para a questão indígena. Vão descobrir um mundo fantástico, com problemas e inúmeras riquezas que irão interessar ao grande público cara pálida. Afinal, o indígena é problema de todos nós, representa a memória do país e ele também tem direitos humanos. Sem falar que as verbas públicas destinadas a ele necessitam de um melhor acompanhamento de todos nós.
* NILDA RODRIGUES é Jornalista, colaboradora da FOIRN – Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro - e Consultora de Comunicação e Mobilização de Recursos da ONG Saúde Sem Limites – que trabalha com populações indígenas. E-mail: nyldarodriguez@uol.com.br