"Covardes!" Esse foi o adjetivo com o qual o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se referiu, meses atrás, aos jornalistas que não apoiavam o projeto de criação do Conselho Federal de Jornalismo. O adjetivo teria sido dito em tom de desabafo informal, diante da forte reação dos proprietários de veículos de comunicação e de vários jornalistas com postos de destaque. Tememos que o presidente volte a usar o adjetivo, só que agora para se dirigir ao seu próprio "time", caso continue pensando da mesma maneira.
O presidente da Câmara dos Deputados, João Paulo Cunha (PT/SP), disse na tarde desta terça-feira (14/12), que a Câmara deve votar até amanhã, em regime de urgência, o projeto do Conselho Federal de Jornalismo. Confirmando, assim, o acordo realizado entre governo e oposição para "rifar" o projeto. Aquele mesmo projeto que provocou o desabafo do presidente.
Apesar da rejeição do projeto ainda não ter se consumado, o que só deverá ocorrer dentro de algumas horas, a confirmação feita pelo deputado João Paulo Cunha (PT/SP) já provoca reações da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), pai e mãe do projeto que foi, inicialmente, apadrinhado corajosamente pelo Palácio do Planalto.
Após a confirmação da iminente rejeição do projeto foi a vez do vice-presidente da FENAJ, Fred Ghedini, fazer o seu desabafo. "Ver pessoas que lutaram contra a ditadura militar, pela anistia, pela redemocratização do país, desempenhando um papel triste como este que se anuncia na Câmara, revela uma certa mediocridade da política brasileira", disse Ghedini.
"Caso o projeto seja rejeitado em regime de urgência, obstruindo o debate democrático, irá revelar a submissão de grande parte dos congressistas com as mazelas da mídia brasileira e os interesses de seus proprietários", acrescentou o dirigente da FENAJ.
Para a FENAJ ficará a sensação de ter sido usada como "bucha de canhão" no acordo do governo com a oposição. Acordo este que propiciou, entre outras coisas, a aprovação do "status" de ministro para o presidente do Banco Central.
Para o governo Lula ficará a impressão de que ou é composto por um único corajoso, ou por um presidente que adotou o hábito de mudar radicalmente de opinião. Já para os donos da mídia ficará a certeza de que seus domínios ultrapassam, cada vez mais, os limites de suas empresas.
Mas será da Câmara dos Deputados, onde o governo tem demonstrado ter maioria e que congrega dezenas de patrões de jornalistas, que virá o sinal mais claro: se a liberdade de imprensa não está ameaçada, o mesmo não se pode dizer dos "covardes" profissionais de imprensa e da vilipendiada profissão de jornalista no Brasil.