A matéria com chamada de capa da Revista Época, “Chantagem no Congresso: Câmara investiga deputados suspeitos de usar CPI para coagir empresas”, na edição de nº 341, de 29/11/2004, deixou o deputado Celso Russomanno (PP-SP) indignado. Ele foi entrevistado pela revista e apontado como um dos deputados federais que mais convocaram empresas. Muito embora a revista não o acuse de ser um chantageador, ele se sentiu ofendido por ver seu nome e sua foto estampados em meio à matéria “Chantagem no Congresso”.
O parlamentar utilizou a tribuna da Câmara dos Deputados, na tarde de ontem (02/12), com um exemplar da revista nas mãos e afirmou que abriria o seu sigilo fiscal, bancário e telefônico para qualquer investigação. Russomanno não parou por aí. Pediu para ser investigado pela Corregedoria da Casa e solicitou providências da Procuradoria da Câmara, para que sejam solicitadas explicações da revista. A TV Câmara transmitiu, ao vivo, o pronunciamento do parlamentar.
Hoje ele confirmou ao “O Jornalista” que vai, como cidadão, interpelar judicialmente o editor da revista que o entrevistou. Durante a longa entrevista que concedeu ao nosso website, o parlamentar se defendeu e disse “que está incomodando por fazer as coisas de maneira correta”.
“O Jornalista” procurou o deputado devido ao fato dele se colocar publicamente como uma pessoa que teve dano moral provocado por uma reportagem. “Meu dano é moral, mas entendo que não cabe uma indenização financeira da revista. Quero uma reparação moral”, afirmou.
Hoje, está se tornando corriqueiro no Brasil, pessoas pedirem altas indenizações financeiras quando se sentem vítimas de reportagens. O deputado defende que o correto nestes casos, seja que o veículo de comunicação repare o dano com uma outra matéria de igual destaque.
O deputado que defende a criação de um Conselho Federal dos Jornalistas afirmou, ainda, que considera “uma piada” o argumento de que um Conselho dos Jornalistas irá cercear a liberdade de imprensa. Russomanno é autor do projeto que cria a Ordem dos Jornalistas do Brasil, ao qual o projeto do Conselho está apensado.
“O Jornalista” tentou ouvir o editor responsável pela matéria, mas não conseguiu. Nosso objetivo não é, nem em tese, julgar a reportagem ou o deputado. Mas, concordamos com Russomanno quando ele defende que uma reparação moral possa ser feita com outra matéria de igual destaque. Tememos que indenizações milionárias acabem sendo um importante desestímulo à produção de reportagens e ao jornalismo investigativo brasileiro. Se por um lado as pessoas querem ter sua moral preservada, por outro, o jornalista não pode ser privado de errar e de reconhecer seu erro – quando for o caso – sem ter que junto com o veículo promover indenizações milionárias.