Cinqüenta e três jornalistas portugueses foram intimados a comparecer perante o Ministério Público de Lisboa em virtude de "violação do segredo de instrução", no caso do escândalo pedófilo da Casa Pia, embora o processo só seja aberto em 25 de Novembro de 2004.
"É a primeira vez que se convoca um número tão grande de jornalistas desde o reinstauração da democracia em Portugal, em 1974. Na véspera da abertura do processo do caso da Casa Pia, essa onda de intimações pode ser percebida como uma tentativa de intimidação e uma incitação à auto-censura", inquieta-se a organização Repórteres sem Fronteiras.
Os jornalistas, que foram ou vão ser ouvidos pela justiça, trabalham para onze dos maiores meios de comunicação de massa portugueses, dentre os quais o diário Correio da Manhã, o canal de televisão SIC e a rádio nacional Antena 1. Vários deles pediram para serem ouvidos na qualidade de acusados e não de testemunhas, o que os autoriza a guardarem o segredo sobre as suas fontes de informação durante o decurso das investigações policiais. Se forem reconhecidos como culpados, incorrem pena que pode chegar até a dois anos de prisão.
O processo contra as sete pessoas acusadas por abusos sexuais em menores realizar-se-á a sete chaves. Cerca de cem testemunhas serão chamadas a depor. Entre os acusados estão personalidades políticas.
O caso da Casa Pia, instituição que acolhe crianças pobres ou órfãs, foi extremamente divulgado. Viera ao conhecimento público em 2002, quando o semanário Expresso revelara que um motorista da Casa Pia entregava crianças a clientes pedófilos há 20 anos. O dossiê foi, então, parar nas mãos da justiça.
Esse caso de pedofilia, no qual importantes figuras estão implicadas, obtivera cobertura da mídia sem precedentes. Revelações que comprometiam, às vezes, até mesmo dirigentes políticos, foram regularmente publicadas pela imprensa.
Fonte: RSF