Rogaciano Medeiros*
É de causar revolta e indignação, a forma como os veículos de comunicação, através das suas principais expressões, quer dizer, aqueles com espaço destacado na mídia, têm tratado o projeto de criação do Conselho Federal de Jornalismo (CFJ). A informação tem sido manipulada acintosamente, sem a menor cerimônia, com o único intuito de desqualificar a proposta e colocá-la como instrumento de cerceamento da liberdade de imprensa.
Um absurdo que salta aos olhos de qualquer cidadão com o mínimo de formação e senso crítico, independentemente de ele ser contra ou a favor do CFJ. A verdade vem sendo violentamente distorcida para se impor a versão falaciosa de que os jornalistas e a sociedade não querem o Conselho.
Nessa onda, muitos se deixaram levar pela campanha massiva e ofensiva contrária à proposta, que de tão apelativa chegou a iludir personagens de credibilidade e de grande importância na vida brasileira. Pessoas que, com a evolução dos debates, sem dúvida alguma, vão descobrir o alcance do Conselho e compreender a necessidade de instituí-lo, o mais rápido possível.
É fundamental deixar claro que o projeto de criação do Conselho Federal de Jornalismo não é do governo Lula, como a imprensa, irresponsavelmente, insiste em afirmar. A proposta é resultado de muitos anos de debate entre os jornalistas e do acúmulo de experiência da categoria. Acontece que, por se tratar da criação de uma autarquia, somente o Executivo pode mandar a matéria para o Legislativo. A proposta, vale salientar, chegou ao Palácio do Planalto ainda no governo Fernando Henrique Cardoso.
A instituição do CFJ só faz beneficiar a sociedade, que não tem a menor condição de se defender dos chamados crimes de imprensa. Por isso mesmo é que as empresas de comunicação reagiram de forma tão agressiva contra a proposta, através dos seus porta-vozes, figurões com programas de grande audiência, editores, colunistas e coadjuvantes, alguns até mais reais do que o rei. O que tem ocorrido é um verdadeiro linchamento midiático contra o Conselho. Só tem espaço quem se manifesta contrário ao projeto. O que, aliás, só faz reafirmar a tradição da imprensa brasileira de estar sempre a serviço do grande capital e dos interesses dos setores mais retrógrados das elites.
Na verdade, o próprio tratamento dispensado ao assunto reforça a necessidade imperiosa não apenas de criação do CFJ, mas principalmente da definição de meios legais para controlar os abusos da mídia e garantir instrumentos que efetivem a democratização da comunicação, requisito indispensável para o aprimoramento da democracia e a construção da cidadania no Brasil.
É inadmissível que um poder tão poderoso como o da mídia, da imprensa, capaz de construir mitos e inverter a verdade, continue sem qualquer regulação. A essência da democracia é justamente o estabelecimento de limites para todos os segmentos sociais, a fim de assegurar justiça e liberdade para o coletivo. Dizer que o CFJ agride a liberdade de imprensa é um argumento frágil, vazio, que confirma a manipulação odiosa da informação por parte dos que controlam os meios de comunicação.
Muito pelo contrário, o Conselho não representa nenhuma ameaça ao jornalista sério, que exerce a profissão pautado na ética e na fidelidade aos fatos. Até porque, quem não deve não teme.
*O jornalista Rogaciano Medeiros é vice-presidente da Regional Nordeste II da Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas)