O programa Linha Direta da Rede Globo, exibido na noite de 02 de setembro, foi dedicado ao caso Vladimir Herzog, mas não foi inteiramente fiel aos fatos. Em nenhum momento, durante a dramatização do momento histórico que impulsionou o processo de redemocratização do País, foi mencionada a participação do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo nos acontecimentos.
O presidente da entidade na época, Audálio Dantas, estranhou a edição feita pela Rede Globo no programa e diz que "o Sindicato estava justamente no centro dos acontecimentos e foi ignorado pela produção do programa, justamente um dos agentes da notícia".
Audálio lembra que, antes mesmo do assassinato de Vlado, em outubro de 1975, o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo já lutava contra a repressão da ditadura militar, divulgando em suas notas pedidos de esclarecimento sobre os demais jornalistas presos. Também recorda a forma com que a entidade se tornou um ponto de referência pela democracia e liberdade de expressão, reunindo a categoria numa autêntica trincheira de resistência. "Foi através de uma nota divulgada por nós na época que, pela primeira vez, o exército foi apontado como culpado pela morte de Vlado. Além disso, o culto ecumênico realizado na Praça da Sé não surgiu espontaneamente, sendo, sim, impulsionado pelo Sindicato para que realmente acontecesse. E muitos dos jornalistas presentes ao funeral estavam lá porque foram chamados por nós", conta Audálio.
Segundo o ex-presidente da entidade, "omitir e ignorar os fatos equivalem à censura". Para o atual presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, Fred Ghedini, infelizmente - e mais uma vez - este é um típico caso de jornalistas trabalhando contra os próprios jornalistas. "A edição do programa sobre o Herzog, que decidiu omitir a atuação do Sindicato, foi um atentado contra a informação verdadeira e de qualidade. Qual é o sentido disso no final das contas? Prejuízo para a classe jornalística e sua auto-estima, prejudicando, também, a compreensão dos fatos pelas novas gerações, que, dessa forma, não poderão conhecer verdadeiramente a história do seu País", lamenta.