Censura nunca mais! Este é o refrão que se ouve de norte a sul do país. Uma maravilha! Nossa sociedade amadureceu e o recado é claro: o Brasil não aceita mais sequer cheiro de censura. Trata-se de motivo para grande comemoração! Mesmo pessoas com passado bem pouco democrático afirmam: "Isto é censura, sou radicalmente contra!" Estamos no paraíso! O Brasil virou a mãe da liberdade e que assim permaneça para todo o sempre! Liberdade abra as asas sobre nós e não feche jamais! Torçamos para que não seja apenas discurso de período eleitoral! De qualquer forma é um super avanço! Viva!
"O Jornalista" foi o primeiro veículo a informar que o presidente Lula iria assinar, que assinou e, que estava mandando para o Congresso Nacional projeto propondo a criação do Conselho Federal de Jornalismo. Escrevemos a notícia com muita alegria. Afinal, a profissão de jornalista no Brasil virou uma enorme bagunça. Não sabíamos se aplaudíamos ou se escrevíamos.
Porém, o Conselho Federal de Jornalismo só tem sentido de existir se for, antes de mais nada, um baluarte da liberdade contra a bagunça. Esta é a sua função maior. Os povos civilizados já aprenderam faz tempo: com bagunça não há liberdade que resista!
Mas, alterações de última hora no texto do projeto geraram um dos maiores debates já visto no País e pode até ter ferido de morte a criação do Conselho. Caso isto aconteça, a bagunça irá avançar e a liberdade será a maior vítima.
"O Jornalista" defende a existência de uma entidade que tire do Estado o poder de conceder o registro profissional de jornalista e passe a fiscalizar o exercício da profissão, principalmente para evitar o exercício ilegal e a exploração, que hoje é escandalosa, do profissional de imprensa. Sem falar na necessidade de acompanhamento e fiscalização das centenas e centenas de faculdades de comunicação, que se proliferaram sem nenhum controle digno do nome.
Se somos todos a favor da liberdade, somos contra o Conselho? A proposta de criação da entidade é defendida por uma parcela importante dos jornalistas brasileiros, justamente para combater as diversas formas de precarização da profissão e principalmente estabelecer regras claras sobre o exercício profissional. Aliás, como a Ordem dos Advogados do Brasil, ou o Conselho de Medicina fazem. Nada mais do que isto! Os advogados brasileiros defendem a liberdade, mas não querem bagunça na sua profissão - nem poderiam. Seria loucura! Com os jornalistas brasileiros não é diferente. Pelo menos com os jornalistas conscientes! Mas, temos que reconhecer que existem os que se beneficiam da bagunça instalada e até querem mais.
Acreditamos que a única regra não pode ser: tudo pode! De certa forma é o que acontece hoje no Brasil. Uma decisão judicial autoriza a todos o exercício da profissão de jornalista em nosso País. Muitos aplaudem pensando nos lucros fáceis advindos desta decisão. Mas, será esta a liberdade que queremos?
"O Jornalista" conversou com vários colegas nos últimos dias e ouviu até de lideranças da FENAJ, que o projeto pode e deve ser aperfeiçoado. O que não podemos é jogar fora a água da banheira com o bebê junto, a pretexto de sermos os defensores da liberdade.
Liberdade todo mundo gosta, mas o que poucos estão dizendo é que os jornalistas brasileiros estão cansados de tanta bagunça, ingerências estapafúrdias, exploração, precarização, assédio moral e tantas outras mazelas.
Chega de precarizar a nossa profissão, afinal se queremos mesmo zelar pela liberdade - não podemos ter a nossa profissão infestada de toda ordem de oportunistas e a cada dia mais ultrajada. Liberdade e dignidade profissional já!
Precisamos separar o joio do trigo. Esperamos que o debate leve a isto. "O Jornalista" está sempre de portas abertas a todos que defendam a liberdade, mas não aceitamos a pretexto disto reduzir o debate sobre a bagunça que virou a nossa profissão e que só beneficia a uns poucos, que preocupados apenas com seus interesses particulares se lixam para a liberdade e para um jornalismo de qualidade.