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09/06/2004
Jornalismo em ano eleitoral
 

*Carlos Alberto Di Franco

As eleições estão aí. E os Jumbos da mídia já estão taxiando na cabeceira da pista. A viagem promete turbulência. Da competência dos comandantes (dos diretores de redação e dos editores de política) depende a tranqüilidade do vôo. E a credibilidade da imprensa. O eleitor fará a sua escolha. E o leitor também.

Diz um velho ditado que os advogados enforcam seus erros, os médicos os enterram e os jornalistas os divulgam. Estamos na berlinda. Diariamente. Nossas virtudes e mazelas não são recatadas. Registram-nas fielmente os sensíveis radares da opinião pública. E a relação que se estabelece entre o consumidor e o produto jornalístico não tem a marca da indissolubilidade. A conquista do leitor é um exercício que se renova a cada edição. Impõe-se, por isso, a implosão de inúmeros mitos que iludem o leitorado menos perspicaz.

"Os fatos são sagrados, as opiniões são livres". O lema objetivista, inscrito em alguns códigos empoeirados, é de um vazio surpreendente. Transmite, num tom de verdade dogmática, a certeza da informação imparcial. Só que essa separação esquizofrênica entre fatos e juízos de valor simplesmente não existe. Repórteres não são clones. Não se faz bom jornalismo sem emoção. A frieza é anti-humana e, portanto, antijornalística. Não se pode ouvir um corrupto com a mesma fleuma com que um inglês toma o chá das 5. A imprensa honesta e desengajada tem um compromisso com a sociedade. A neutralidade é uma falácia. Mas a isenção é uma meta a ser perseguida. Todos os dias.

A batalha da imparcialidade enfrenta a sabotagem da manipulação deliberada, da preguiça profissional e da incompetência arrogante. Todos os manuais de redação consagram o dever ético de ouvir os dois lados de um mesmo assunto. Perfeito. No entanto, alguns procedimentos, próprios de operações de contrabando opinativo, transformam um princípio irretocável numa grande mentira

A apuração de faz-de-conta representa uma das maiores agressões à imprensa de qualidade. Matérias previamente decididas em guetos engajados buscam a cumplicidade da imparcialidade aparente. Analisemos a metodologia do antijornalismo. Tudo começa pela incapacidade de ouvir. Para certos repórteres dominados pelo vírus opinativo, o que menos importa é a declaração do entrevistado. A decisão de ouvir o outro lado não se apóia na busca da verdade. É um artifício que transmite uma aparência de isenção, uma ficção de neutralidade. O assalto à verdade culmina com uma estratégia exemplar: a repercussão seletiva. Personalidades entrevistadas em ritmo de Samba de uma Nota Só avalizam a "seriedade" da reportagem. Mas o leitor, cada vez mais crítico e exigente, sente a mordida do engodo. Comprou lebre e recebeu gato.

Mas nem tudo é manipulação. A preguiça profissional é outro veneno da qualidade. Repórteres carentes de informação especializada e de documentação apropriada acabam derrapando no escorregadio terreno do jornalismo declaratório. Sobram aspas, mas falta apuração. A incompetência arrogante foge dos bancos de dados. A dúvida, lógica e natural, morre na garganta. Na ausência da pergunta consistente, a fonte deita e rola. Instaura-se o reinado da versão. O jornalismo de registro, insosso e burocrático, precisa reencontrar o sabor e a ousadia da boa reportagem.

Uma imprensa ética sabe reconhecer os seus erros. Todas as empresas jornalísticas, pressionadas pela ditadura do deadline, cometem equívocos. As palavras podem informar corretamente, denunciar situações injustas, cobrar soluções. Mas podem também esquartejar reputações, destruir patrimônios, desinformar. A humildade, virtude que medra nas personalidades fortes, é o melhor antídoto contra o veneno do jornalismo irresponsável. Jornais justos, sublinha Paul Johnson, "chamam a atenção a quilômetros de distância". Confessar um erro de português ou uma troca de legendas é relativamente fácil. Mas admitir a prática de atitudes de prejulgamento, de manipulação informativa ou de leviandade editorial exige profissionalismo e coragem moral. Reconhecer o erro, limpa e abertamente, é o pré-requisito da qualidade. E não há investimento que supere o marketing da verdade.

Uma imprensa investigativa, não-partidária, independente, sem editorialismo no noticiário, fiel à verdade dos fatos e preocupada com o cidadão: esses são os fascinantes desafios da cobertura eleitoral e, ao mesmo tempo, os parâmetros que definirão o teste da imprensa de qualidade. A todos uma boa viagem.

*Carlos Alberto Di Franco, diretor do Master em Jornalismo para Editores e professor de Ética Jornalística, é diretor para o Brasil de Mediacción - Consultores em Direção Estratégica de Mídia (Universidade de Navarra). E-mail: difranco@ceu.org.br

 

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