Por 54 votos a sete, além de cinco abstenções, os jornalistas do O Povo do Ceará aprovaram, no último dia 17, a instalação imediata de estado de greve. Insatisfeita com a intransigência do sindicato patronal, presidido pelo assessor jurídico do jornal, advogado Mauro Sales, 81,81% da redação disse sim à consulta. A insatisfação se transformou em indignação na véspera da votação, quando a chefia anunciou a antecipação da inflação (5,39%) nos contracheques deste mês, mesmo os jornalistas já tendo recusado oferta anterior da empresa de um índice de reajuste de 6,39%.
"A redação entendeu a antecipação do reajuste, sem o aceite dos jornalistas, como uma provocação", resumiu a presidente do Sindicato dos Jornalistas no Ceará (Sindjorce), Samira de Castro. "5% é vergonhoso e não fomos consultados de tal porcentagem", desabafou um jornalista na cédula de votação. A palavra "vergonha" foi a mais citada nas cédulas. "Reajuste do patronato é uma vergonha", escreveu outro profissional. "Inflação é uma vergonha. 13% é pouco", completou um terceiro, se referindo à reivindicação inicial encaminhada pela categoria ao sindicato patronal, em julho do ano passado.
Antecipação do INPC à revelia foi a gota d"água
"Os colegas já estavam insatisfeitos com a negativa do jornal a um abaixo-assinado da redação, reivindicando aumento decente, pagamento de horas extras e condições de trabalho. A inclusão da inflação nos contracheques foi a gota d"água", completou Rafael Mesquita, diretor de Juventude do Sindjorce.
As "negociações" da campanha salarial dos jornalistas empregados em jornais e revistas do Ceará se arrastam, sem qualquer avanço, desde setembro de 2012, data-base de impresso, e os profissionais seguem há quase um ano sem reajuste salarial, já que a última Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) foi celebrada em 14 de maio de 2012. "É preciso lutar por melhor aumento salarial e cumprimento do acordo coletivo de trabalho", escreveu um jornalista na cédula.
O que é o estado de greve?
É uma ação política para sinalizar a insatisfação da categoria com as empresas. Não necessita de ritos jurídicos formais.
Fonte: Sindjorce