Alguém já ouviu falar em revistas semanais vendendo matérias? Bom, pelo menos quem ouviu uma fita de posse da Polícia Federal (PF) pode garantir que sim. O jornal "Folha de S.Paulo" , na edição de hoje (18), aborda o conteúdo de uma fita da PF onde publicitário aparece oferecendo uma capa da revista "IstoÉ Dinheiro". O publicitário admitiu o erro para o jornal, mas editoras negam venda de matéria.
A Polícia Federal estava monitorando os dirigentes da cervejaria Schincariol e gravou uma conversa telefônica entre o publicitário Luiz Lara, da agência Lew, Lara, que atende parte das contas da cervejaria, com Adriano Schincariol, diretor da empresa. No diálogo, Lara sugere a Schincariol a compra de uma reportagem de capa da revista "IstoÉ Dinheiro", da Editora Três, de propriedade de Domingo Alzugaray.
Segundo a "Folha de S.Paulo", num trecho da gravação, Schincariol e Lara conversam sobre a possibilidade de "blindarem" as revistas "IstoÉ" e "Época", da Editora Globo. Lara afirma a Schincariol que Alzugaray estava com graves problemas financeiros e que, se ele desse até R$ 1 milhão, conseguiria uma reportagem de capa da "IstoÉ Dinheiro".
O diálogo, ocorrido em 17 de dezembro de 2004, foi confirmado por Luís Lara ao jornal. Schincariol está detido na Polícia Federal em São Paulo, e seu advogado disse que seu cliente não teria como comentar a gravação.
Lara afirmou à Folha que agiu de forma indevida e que nunca comprou uma reportagem de capa de uma revista. "Cometi um excesso inadvertido. Falei demais e assumo toda a responsabilidade", teria dito Lara.
Dois meses depois do diálogo, no dia 23 de fevereiro deste ano, a "IstoÉ Dinheiro" publicou a reportagem de capa: "A virada da Schin".
Em nota enviada à Folha na última quinta-feira, Alzugaray nega que sua editora venda reportagens de suas revistas e diz desconhecer o teor do diálogo. Para ele, "Schincariol foi capa da revista "Dinheiro" por méritos próprios: dobrou suas vendas em um ano".
O diretor de Redação da revista "Época", Aluizio Falcão Filho, negou enfaticamente à Folha que a revista venda suas reportagens. Segundo ele, a "Época" publicou duas reportagens sobre a Schincariol. Uma, em dezembro de 2003, com denúncias de sonegação fiscal e enfoque bastante negativo à Schincariol. A outra, em 13 de dezembro de 2004, portanto antes da gravação da PF, a respeito do estudo da Trevisan.
Outro lado
O publicitário Luiz Lara, da Lew, Lara, em comunicado enviado à imprensa, diz: "Durante a conversa com Adriano Schincariol, reconheço que me excedi inadvertidamente, pois uma agência de publicidade não tem a função nem o poder de interferir no conteúdo editorial dos veículos de comunicação".