Não é brincadeira. Já pensou em fazer uma matéria explicando a atual crise política brasileira para as crianças? Poderia ser assim: "Ao invés de trabalharem para melhorar as condições da sua escola, políticos estão sendo acusados de ganhar uma mesada que equivale a cem salários de um trabalhador humilde."? Se no Brasil a produção de telejornais para crianças e jovens é inexistente ou limitada a pequenas experiências, o mesmo não acontece na Europa, na qual esta programação é incentivada e vem conquistando tanto o público quanto a crítica. A atividade é levada tão a sério que a Espanha sediou a segunda edição do encontro "Telediarios infantiles y juveniles: los valores de la formación y la información (Telejornais infantis e juvenis: os valores da formação e da informação), em Madrid.
Especialistas europeus vêm verificando que os noticiários produzidos para as crianças também estão sendo acompanhados cada vez mais pelos adultos. O programa Jeugdjournaal da televisão pública Holandesa NOS contabiliza cerca de 500 mil telespectadores. O programa Info-K, da TV da Catalúnia, alcança boa audiência e o recente telejornal Acerca-t, do Canal Sur TV da Espanha, capta a atenção de outros 145 mil.
Os bons números podem ser explicados pelo formato dos programas que procuram ao mesmo tempo informar, educar e entreter - tratando crianças e jovens como cidadãos em um processo de desenvolvimento, e não como simples consumidores acríticos da televisão.
Segundo pesquisas européias, a televisão ainda é o meio de comunicação mais ‘consumido’ pelas crianças, embora o interesse delas também esteja cada vez mais voltado para as outras mídias, como a internet, os jogos eletrônicos e os celulares. “Daí a importância e a necessidade de manter e potencializar este tipo de programação, tanto nas emissoras públicas quanto nas privadas. É preciso destacar que qualquer emissora de TV, assim como qualquer outro meio de comunicação audiovisual, deve cumprir uma função social”, enfatiza o documento que traz as conclusões do encontro.
Neste sentido, os produtores buscam, por meio dos telejornais, não apenas informar, mas também fazer com que as crianças e os jovens entendam e compreendam o que se passa no mundo. Em cada edição, procuram ainda enfatizar a importância dos valores, do respeito às diferenças, da imparcialidade e da solidariedade.
Quem pensa que há uma fórmula pronta e mágica para se produzir tais programas, engana-se. Sabe-se que é preciso utilizar uma linguagem fácil, um ritmo adequado e uma música atraente. “Falando e comentando poucas notícias, mas com profundidade”, destacam os participantes do encontro. Na Europa, a tendência é produzir telejornais segmentados de acordo com a faixa etária das crianças. No processo de produção, o auxílio de psicólogos e pedagogos é bastante requisitado.
Estes profissionais recomendam aos pais, tutores, familiares e educadores a assistirem aos telejornais com os jovens. Desta forma – acreditam – os adultos facilitarão a compreensão das notícias emitidas, o que favorecerá conseqüentemente o diálogo e a reflexão do que foi visto e ouvido. De acordo com as conclusões do encontro, em um cenário europeu no qual a educação para a mídia não vem sendo muito desenvolvida e incentivada, a produção destes telejornais contribui decisivamente para compensar este déficit.
Os participantes se comprometeram a redigir um Guia de Estilo de Telejornais Infantis e Juvenis da Europa. O documento abrangerá as iniciativas do Reino Unido, Holanda, Suécia, Espanha, França, Alemanha e Itália. Ele será apresentado no encontro do próximo ano.
Fonte: Multirio