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10/06/2005
Liberdade de imprensa ameaçada na Itália
 

Por Francesco Screti

Roma, 10/06/2005 – A reportagem sobre a existência de armas italianas e mãos de rebeldes iraquianos trouxe mais dissabores do que prestígio ao jornal Corriere della Sera. Essa informação publicada em primeira página motivou uma nunca explicada invasão de sua redação central de Milão por parte da polícia fiscal. Este é o “último de uma longa série de ataques à informação”, disse o secretário da Federação Nacional da Imprensa, Paolo Serventi Longhi, que qualificou a intromissão no mais antigo jornal da Itália, fundado em 1876, como “uma grave intimidação” aos jornalistas. A organização não-governamental Repórteres Sem Fronteiras, com sede em Paris, defensora da liberdade de imprensa no mundo, classificou a Itália em 39º lugar na sua mais recente lista em ordem crescente de países com restrição à liberdade de expressão, classificação esta que também coloca o país como o pior da União Européia.

A lista é encabeçada pela Dinamarca como sendo “o paraíso” dos jornalistas quanto à liberdade de trabalho, seguida da Suécia. Em último lugar aparece o Iraque. A colocação negativa da Itália “se deve ao fato de a Justiça italiana ter multiplicado as detenções por crimes de opinião, às violações do segredo profissional e às invasões”, como do Corriere della Sera no dia 25 de maio pela Guarda de Finanças, uma das três forças policiais da Itália especializada em crimes fiscais e financeiros. Mas há mais pressões. Também “pesa sobre a independência do setor audiovisual o conflito de interesses de Silvio Berlusconi, que é primeiro-ministro e dono de um império” de comunicação e econômico.

Berlusconi possui três das oito redes nacionais de televisão, Canal 5, Itália 1 e Rete 4, além da espanhola Canal 5, uma plataforma digital de programas de variedades e de esportes por assinatura temporária (pay per view), a editora Mondadori, dois diários, vários semanários, bancos, companhias de seguro, construtoras e o clube de futebol A. C. Milan, entre outros negócios. Para o jornalista e escritor Marco Travaglio, na Itália não existe um monopólio da informação, como muitos afirmam, “mas um regime, porque o chefe de governo é o único dono da televisão privada e também controla a RAI, pertencente ao Estado italiano”. A RAI (Radiotelevisão Italiana), que conta com três redes nacionais. É uma sociedade anônima com capital completamente estatal, seu conselho de administração é nomeado pelos presidentes das duas câmaras legislativas e seu diretor-geral é indicado pelo governo nacional.

“A liberdade de informação corre risco não só pela presença no parlamento de um político dono de jornais e televisões, mas também, porque há 40 anos os partidos políticos dominam a televisão pública”, disse Travaglio à IPS. “Os partidos políticos devem ser controlados pela televisão, e não controlá-la, mas na Itália a relação é inversa e o parlamento vigia a RAI através de uma comissão”, instituída em 1975, acrescentou. Por isso, “cada vez que muda o governo a televisão pública também muda”, mas a seu favor, sendo que “um jornalista digno desse nome deveria naturalmente ir para a oposição e criticar qualquer um que governe”, afirmou. Neste sistema “demencial”, disse Travaglio, a imprensa “em lugar de ser o cão de guarda da democracia é o cão de companhia do poder”.

Nicola Tranfaglia, professor de História do Jornalismo da Universidade de Turim, concorda com Travaglio quanto à “opressão do poder político” sobre os meios de comunicação. “Se tornou ainda maior e de direção única” com a chegada de Berlusconi, ressaltou. Desse modo, a televisão ficou menos interessante, “a qualidade da informação piorou e foi em muitos casos ausente ou insuficiente, ou ainda manipulada voluntariamente”, ressaltou o especialista. “A censura na Itália existe e é especialmente forte”, disse o professor, após revelar que foi uma das vítimas dessa prática quando sua entrevista para um programa sobre o fascismo foi apagada por completo para evitar que fosse divulgada”. A informação livre sobrevive somente em alguns nichos e sempre muito limitada”, ressaltou.

Na “RAI direitista”, contou Travaglio, “também há jornalistas de esquerda”, mas com a condição de não passar os limites traçados por Berlusconi, por exemplo, como o de calar sobre “a condenação de Marcello Dell´Utri (senador do partido de Berlusconi e colaborador direto durante os últimos 20 anos) a nove anos de prisão por integrar um grupo criminoso”. Na RAI, os jornalistas geralmente “se autocensuram”, quando não o fazem se calar, disse Travaglio, para em seguida destacar que atingir jornalistas famosos e de muito prestígio, como Enzo Biagi, Michele Santor ou Massimo Fini, serviu de admoestação para os mais jovens e inexperientes. Na “informação, a televisão italiana é a pior do Ocidente”, concluiu Travaglio.

Mesma opinião tem Paolo Sylos Labini, professor de Economia Política da Universidade de Roma. “Não há liberdade verdadeira, apenas uma liberdade falsa, exterior”, como “nos países menos desenvolvidos, as reações são fracas, tardias, lentas”, disse. O especialista recordou que “Berlusconi disse com brutal sinceridade que controla os jornalistas”, oficialmente, os que trabalham “sem suas empresas”, e indiretamente os demais. “Na Itália existe o costume de não se expor, de evitar as polêmicas. Mas não se pode generalizar”, disse o professor, revelando seu otimismo. Embora sejam poucas, “também existem pessoas valiosas e coerentes”, afirmou.

A Itália é o único país onde além do sindicato existe um colégio nacional de jornalistas, de inscrição obrigatória, no qual se entra mediante um exame e com muitos vínculos, instituído por lei em 1925, aprovada durante o regime fascista do ditador Benito Mussolini (1922-1943). “O colégio é um instrumento corporativo que não favorece em absoluto as pessoas”, disse Sylos Labini, e “se estas são cordeirinhos, “há um reflexo condicionado muito difuso: o servilismo”, acrescentou.

Entretanto, Labini entende que “é possível uma recuperação”, pois “há (entre os jornalistas) uma minoria honesta, muito ativa, que está crescendo. Alguns são oportunistas, mas outros não escrevem certas coisas porque seus diretores gostariam de publicar”, ressaltou. Algumas manifestações chamaram a atenção da opinião pública sobre a informação na Itália. Hoje se fala muito menos. “A imprensa escondeu a coisa, porque não quer que a sociedade civil a julgue e critique e porque este tema incomoda os políticos: a ausência da sociedade civil reforça o poder do governo”, afirmou Tranfaglia. O especialista definiu como “trágica a situação da imprensa, porque a publicidade (maior fonte de renda) está nas mãos do próprio Berlusconi e porque o domínio da televisão reduziu a quantidade de leitores”.

Os italianos são os europeus que lêem menos jornais, afirmou Tranfaglia, pois “desconfiam, dos jornalistas, e pelo menos a metade não tem as ferramentas culturais necessárias para entendê-los”. Isto se deve, segundo o catedrático ao fato de “o nível de educação ser menor do que no resto da Europa”. Quanto à qualidade da informação, não duvidou em afirmar que a imprensa “é melhor que a televisão atual” mas, acrescentou, salvo algumas exceções, também seus jornalistas têm “péssima fama” por causa de “sua escassa preparação cultural e pelas freqüentes infrações das normas deontológicas”.

Freqüentemente fazem brincadeiras, participam de propaganda ou comercial e violam os códigos profissionais, “não só por certa negligência, mas também por uma grave responsabilidade de seus diretores”. Os jornalistas estão entre a espada dos potentes que os consideram perigosos e a parede dos leitores que os têm como abutres, escravos ou incapazes. “Em sua maioria não se sentem livres”, nem o são, afirmou Tranfaglia. Por sua vez, Beppe Grillo, um apresentador de televisão desterrado desse meio por causa de seu perfil de profissional independente e crítico, apontou a Internet como “um dos poucos pequenos espaços para se defender (da tirania do poder)” e se expressar livremente. No momento”, corrigiu Tranfaglia, “mas, até quando?”.

Publicado originalmente na Envolverde - Revista Digital de Ambiente, Educação e Cidadania

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