Por Thalif Deen
Filipinas, Iraque, Colômbia, Bangladesh e Rússia são os países mais perigosos para se exercer o jornalismo, advertiu o Comitê para a Proteção de Jornalistas por ocasião do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, comemorado nesta terça-feira. Após cinco anos de investigações, a partir de janeiro de 2000, o CPJ concluiu que a grande maioria dos jornalistas assassinados no exercício da profissão não caiu pelo fogo cruzado ou enquanto trabalhavam em locais perigosos. Ao contrário, 121 dos 190 profissionais mortos em todo o mundo desde 2000 foram “perseguidos e assassinados em represália por seu trabalho”, informou a organização. E 85% desses crimes continuam impunes, diz o relatório da CPJ. “Por sua omissão na investigação e punição dos assassinos, os governos desses cinco países encarnam todos aqueles que procuram silenciar a imprensa através da violência”, afirmou em uma declaração a diretora-executiva do Comitê, Ann Cooper.
Na maioria dos casos, os jornalistas foram mortos em represália pela cobertura de casos de corrupção governamental, delitos e narcotráfico ou da atividade de organizações insurgentes, afirma o relatório da CPJ. “O problema é enorme, mas não insolúvel. Os governos devem reconhecer que não está em jogo apenas a justiça para com o assassinados, mas o direito coletivo da sociedade de se informar”, disse Cooper. Os jornalistas não podem cumprir seu trabalho em um clima de violência e impunidade. “Para resolver estes crimes, os governos, particularmente os daqueles cinco países mais assassinos, devem dedicar os recursos necessários e exercer sua vontade nesse sentido”, acrescentou. Dezoito jornalistas morreram nas Filipinas desde 2000 em conseqüência de seu trabalho. Todos eles referentes à corrupção governamental e policial, ao narcotráfico e ao crime organizado. Muitos eram comentaristas de rádio ou repórteres que sofreram emboscadas, diz o informe do Comitê.
De acordo com o relatório, os jornalistas atribuem a violência que sofrem à crise do estado de direito, à generalizada circulação ilegal de armas e o fracasso do sistema judicial em acusar um único assassino. Por outro lado, o fogo cruzado foi a principal causa de morte de jornalistas no Iraque. Nessa zona de guerra, onde Estados Unidos e as forças coligadas a esse país enfrentaram uma crescente insurgência desde março de 2003, 13 das 41 mortes de jornalistas no exercício da profissão foram assassinatos. Mais da metade destes contra jornalistas iraquianos, identificados pelos rebeldes, reais ou supostamente, com forças da coalizão invasora, organizações estrangeiras ou organizações políticas. Vários dos profissionais assassinados haviam recebido ameaças antes do crime, segundo a CPJ. Inclusive forças norte-americanas são acusadas de apontar deliberadamente contra jornalistas, em particular contra aqueles críticos da ocupação.
No Fórum Econômico Mundial (FEM) reunido em janeiro na cidade suíça de Davos, o então gerente de notícias da CNN, Eason Jordan, disse - de acordo com diferentes versões - acreditar que soldados norte-americanos mataram deliberadamente pelo menos 12 jornalistas. Depois de uma tempestade de críticas por parte de organizações direitistas, Jordan se retratou. “Nunca quis denotar que forças norte-americanas atuaram com má intenção quando mataram jornalistas por acidente”, declarou. “Me desculpo com quem pensa que disse ou acreditei em outra coisa”, acrescentou. Apesar da retratação, Jordan teve de renunciar ao seu cargo. O jornal The New York Times informou, pouco depois, que havia “alguma incerteza” sobre as palavras precisas do jornalista, pois os organizadores do FEM se negaram a entregar a gravação da conferência aos meios de comunicação que o solicitaram.
Por outro lado, na Colômbia, onde a cobertura de questões relacionadas com o narcotráfico, organizações paramilitares e corrupção local colocaram os jornalistas em grande perigo, 11 profissionais foram assassinados desde 2000, e pelo menos oito deles haviam recebido ameaças. Esses crimes foram cometidos em regiões sem vigilância, onde organizações armadas rivais combatem pelo controle territorial. Em Bangladesh, nove jornalistas foram mortos desde 2000, oito deles no distrito de Khulna, dominado por organizações criminosas, entre elas de narcotraficantes. Nesse país asiático, os jornalistas rotineiramente são hostilizados, ameaçados e apanham, afirma o relatório do CPJ.
Na Rússia, os assassinatos encomendados constituem uma grave ameaça para os profissionais da imprensa. Pelo menos sete morreram nas mãos de assassinos profissionais por causa da matéria que estavam cobrindo. O Comitê investiga as circunstâncias de outros quatro assassinatos. A maioria dos jornalistas trabalha em meios escritos e investigavam o crime organizado e a corrupção governamental. Alguns pertenciam a emissoras de rádio e televisão e haviam criticado poderosos políticos locais. “Um sistema de justiça penal politizado, sacudido pela corrupção e pelo mau manejo perpetua o clima de impunidade na Rússia”, afirma o CPJ. Consultada pela IPS se a Organização das Nações Unidas deveria identificar os países onde são registrados crimes contra jornalistas, Abi Wrigth, membro do Comitê, respondeu: “É uma idéia interessante”. Porém, Wrigth considerou que o relatório do CPJ não apresentava resultados distintos, por exemplo, como outros divulgados pela ONU condenando os países que recrutam crianças para servirem de soldado.
Fonte: (IPS/Envolverde) - ENVOLVERDE - Revista Digital de Ambiente, Educação e Cidadania