A morte de indiozinhos brasileiros por desnutrição ganhou a mídia nacional e até internacional. Uma jornalista teve papel fundamental para que a sociedade soubesse da tragédia que acontece em Mato Grosso do Sul. “O Jornalista” conversou com “o anjo da guarda dos indiozinhos”, a jornalista Patrícia Nascimento, diretora-presidente da ONG Girassolidário, responsável por alertar a sociedade para o problema.
Patrícia relata que em maio de 2003, a equipe da Girassolidário - Agência de Notícias em Defesa da Infância visitou aldeias de Mato Grosso do Sul e constatou as condições precárias das crianças que lá vivem.
Em julho daquele ano, a ONG decidiu que este seria o tema central da pesquisa anual "A criança e o Adolescente na Mídia", feita em parceria com a Rede ANDI Brasil.
Em fevereiro de 2004, a Unicef convidou a equipe da Girassolidário para uma visita a uma área de conflito no sul do Estado. Em seguida, a ONG mobiliza a imprensa para o lançamento do relatório do Unicef sobre a situação das crianças indígenas no mundo. Na visita foi possível constatar e fotografar as crianças carregando galões de agrotóxicos com água do rio contaminado para abastecer a população da aldeia.
Em julho/2004, o IBISS (Instituto Pró-Sociedade Saudável-Centro Oeste) promoveu o seminário "Criança Indígena: Direitos a Revelar" em Campo Grande com populações indígenas, entidades governamentais e não-governamentais. A Girassolidário é parceira no evento e apresenta o vídeo "Índio não nasce adulto".
Em outubro, após o lançamento da pesquisa anual, teve início um trabalho de sensibilização entre os colegas jornalistas para que o tema criança indígena entrasse nas redações e fosse tema nas pautas de políticas públicas e saúde, ao invés das páginas policiais.
Fim da invisibilidade na mídia
Em janeiro de 2005, a ONG comemorou a primeira vitória na mobilização da imprensa: um colega de Dourados (MS) escreveu uma matéria sobre a desnutrição nas aldeias para um jornal local. Uma equipe do Jornal Nacional (TV Globo) se interessou e fez uma matéria no dia seguinte. Em seguida, um correspondente da Folha de São Paulo escreveu várias matérias.
Daí em diante, todos os jornais de relevância no Mato Grosso do Sul começaram a cobrir a situação das crianças nas aldeias. A desnutrição dos indiozinhos passou a ser pauta nacional como tema de matérias, artigos, reportagens, editoriais etc.
A pressão da sociedade civil ganhou fôlego e se intensificou com a cobertura da mídia. Imediatamente, começaram as reações por parte das autoridades. O governo reuniu uma equipe interdisciplinar para resolver questões relacionadas às populações indígenas no MS e o Ministério Público informou que pretendia auditar a Funai e a Funasa. Dois jornais impressos do MS contrataram um laboratório para verificar a qualidade da água e constataram a inviabilidade de uso.
A TV Cultura, de São Paulo, fez uma série de reportagens nas aldeias do MS e convidou a Girassolidário para integrar a sua equipe.
O Unicef convidou a Girassolidário para integrar a equipe que irá discutir a qualidade da água nas aldeias com o prefeito de Dourados e a implementação de um projeto para resolver a situação. Além disso, a organização decidiu doar 200 mil reais para levar água potável às aldeias e iniciou campanha de arrecadação entre a sociedade brasileira.
“Não tenho dúvidas de que a imprensa pauta o debate público e com isso, gera ações e reações governamentais e, com algum otimismo, políticas públicas, para que não fiquemos apenas nas ações emergenciais. E espero que isso seja só o começo do começo”, afirma a jornalista Patrícia Nascimento – o anjo da guarda dos indiozinhos.