Extra! Extra!
  Pesquisa
  Espaço La Costa
  Entrevista
  Sindicatos
  Conselho
Federal
  Manual de
Direito
  Legislação
  Documentação de Jornalista
  Links
  Contato

 
 
Entrevistado: Rubens Chiri

A Associação dos Repórteres- Fotográficos e Cinematográficos (ARFOC-SP), fundada em 1948, respira ares de renovação. A nova diretoria tomou posse no último dia 18 de maio, após eleições que registraram a maior participação de associados desde o pleito de 98.

Antes mesmo de comemorar, o repórter-fotográfico Rubens Chiri (Agência Perspectiva), presidente eleito, e os demais 15 profissionais da área que compõem a nova direção, sabem que terão muito trabalho pela frente. A associação vive um momento histórico desfavorável à categoria, com a desvalorização dos profissionais de imagem em jornalismo pelas empresas de comunicação e a conseqüente precarização nas suas relações de trabalho.

O momento é difícil, mas também é rico em desafios. E disposição para "arrumar a casa" não falta. Chiri fala sobre mercado de trabalho, mudanças, planejamento e enfatiza a importância do diálogo e da união com o Sindicato dos Jornalistas e outras associações representativas como fio condutor rumo aos objetivos comuns à todos os jornalistas.

O que é importante ser esclarecido agora que um novo trabalho está sendo iniciado?

Chiri - Os profissionais precisam saber que há uma associação que está ligada, antenada e preocupada com os seus problemas. Todos os integrantes da nova diretoria trabalham na rua, no dia-a-dia, e a gente detecta as dificuldades porque sentimos na pele. Até o final do ano, o pouco que conseguirmos em termos de dar representatividade e de brigar por um futuro digno à nossa categoria já será bastante, porque o mercado está, infelizmente, fazendo com que os profissionais "se matem", com brigas sobre orçamento, porque ninguém faz valer a tabela. O principal é ampliarmos a conscientização de que, se todos lutarem pelo preço mínimo, até o final do ano já estaremos com uma perspectiva bem melhor para os próximos anos. Em relação aos repórteres-cinematográficos, a idéia é reunir alguns profissionais para conhecer suas idéias e intenções, para trazê-las à associação. Sou muito otimista. Sei que, a partir do momento em que mostramos sinais claros de que vai ser diferente, teremos a participação deles também. Aparentemente, as pessoas estão muito dispostas a mudar, inclusive profissionais da outra chapa que concorreu conosco nas eleições, são pessoas que estão interessadas em colaborar. Deixamos totalmente de lado as questões políticas, porque, no fundo, as propostas são muito próximas. A eleição acabou e já não há mais chapas, apenas a ARFOC.

Como está o mercado de trabalho para os repórteres-fotográficos hoje em dia?

Chiri - Muito difícil, cada vez mais escasso. Atualmente, é muito cômodo para os donos de jornais, ao invés de mandar profissionais fazerem reportagens na rua, comprarem fotos a um custo baixíssimo. E como a dificuldade de emprego é muito grande, há redações que pedem a "gentileza" do repórter sair com uma máquina fotográfica e ele acaba se submetendo a isso. A partir do momento que ele faz uma primeira vez, acaba fazendo sempre. Em TV, isso também acontece, caso dos repórteres-abelha. O primeiro passo é conseguirmos união entre todas as funções que englobam uma redação, para fortalecer e exigir de toda categoria que se faça bem feito o que é devido. Entendo que o alicerce do Sindicato dos Jornalistas é formado pela ARFOC, pela ACB (cartunistas), pela Comissão Aberta e Permanente de Assessoria de Imprensa e pela Apijor (direitos autorais). É importante haver diálogo para conseguirmos nos fortalecer e mostrar para a categoria que estamos unidos em busca das nossas reivindicações. Sozinho não vamos conseguir. Não podemos pensar na ARFOC sem passar por esse fortalecimento. Acredito que essa questão representa diretamente o futuro da nossa profissão.

Quais são algumas das reivindicações?

Chiri - A ARFOC precisa se impor e exigir algumas condições. Por exemplo, muitos jornais não têm condições de comprar equipamentos digitais e o próprio repórter fotográfico, que é um facilitador do trabalho, acaba trocando seu equipamento analógico por um digital. Nesses casos, a ARFOC deve buscar, junto ao sindicato e aos patrões, o pagamento de um aluguel digno e decente por esse investimento feito pelo profissional. Outra questão é o seguro. As pessoas estão investindo muito em equipamentos, saem para trabalhar e ficam sem respaldo dos jornais. Por exemplo, sei de um frila do jornal Diário de São Paulo que foi assaltado durante o trabalho e o jornal não quer pagar. Qual foi acordo firmado antes disso acontecer? Não há uma relação concreta sobre isso. Através do diálogo devemos estipular algumas regras.

E os problemas que precisam de resolução mais urgente?

Chiri - Na lei de imprensa, há uma cláusula afirmando que as agências internacionais não podem ceder à imprensa brasileira imagens feitas no Brasil, mas ela não está sendo cumprida (o chamado Out Brazil). Os editores precisam se conscientizar que é preciso evitar essa prática. Há casos em que um profissional de determinado veículo está cobrindo um jogo de futebol e, no dia seguinte, você encontra uma outra foto, feita por uma agência, na capa do jornal. Será que esse fotógrafo que estava no estádio não fez nenhuma foto que poderia estar na capa? Outro problema: temos uma tabela de preço mínimo para saída fotográfica, mas não temos uma tabela para preço mínimo entre as agência. Então, uma pessoa abre sua agência e, para concorrer com as agências grandes, ela acaba diminuindo o preço. Essa é uma competição em que todos perdem. Por isso, há jornais que, ao invés de contratar um repórter-fotográfico, preferem comprar imagens de agências. A partir do momento em que há um preço mínimo, consegue-se moralizar.

Quais são as ações efetivas que a associação pode desenvolver nesse primeiro momento da nova gestão?

Chiri - Um trabalho ainda em formação é a montagem de diversas comissões com diretores como responsáveis, para que as ações aconteçam simultaneamente. Mas já estamos trabalhando em algumas ações simples, como prestar consultoria gratuita aos assessores de imprensa na montagem de coletivas. Casos como banners atrás do entrevistado que poderiam refletir a luz do flash, flores muito grandes na frente da pessoa ou colocar os fotógrafos numa área restrita onde é difícil conseguir uma boa posição para foto. São situações que estamos acostumados a ver no nosso dia-a-dia e que interferem diretamente no trabalho dos repórteres fotográficos e dos cinegrafistas. Muitas vezes o assessor tem boa vontade, mas comete erros por não ter a visão do repórter-fotográfico. Isso vai valorizar o trabalho deles e o resultado final também. Essa é uma ação concreta que já estamos fazendo. No futuro, também queremos auxiliar no credenciamento.
Outro exemplo: hoje o mercado pede equipamento digital. O fotógrafo entra numa loja e acaba comprando uma máquina muito cara. A idéia é sugerir o equipamento certo para as suas necessidades. Tem gente que faz super investimentos, achando que acabou o problema. Mas os vendedores muitas vezes não falam que, atrás de determinada máquina, é preciso ter mais baterias, cartões de memória e às vezes até um note book. Alguém precisa oferecer essa instrução e esse é um dos papéis da ARFOC.

Quantos repórteres fotográficos e cinematográficos existem atualmente no Estado de São Paulo?

Chiri - É difícil sabermos esse número, mesmo dentro da associação esse número não é muito claro. O cadastro que encontramos é muito falho, uma comissão já está trabalhando firmemente nessa questão, justamente para mapear exatamente quem são esses associados, onde estão, como é a situação deles nesse momento. Essa é uma das principais preocupações. Digamos que daqui a três meses tenhamos um jornal, no mínimo precisaremos do endereço de todos para que possam recebê-lo. O mailing também precisa ser atualizado, porque temos milhares de pessoas cadastradas, mas cerca de 30% dos e-mails que enviamos voltam. A desorganização era tão grande, que hoje não sabemos sequer o número de associados pagantes. 

Qual é o critério para se tornar membro da ARFOC?

Chiri - O Estatuto diz que, para ser associado, é preciso ter o Mtb. Há muitas pessoas que trabalham há anos no mercado e nunca tiveram essa preocupação. Conheço gente que trabalha há 25 anos com registro em carteira de trabalho, mas não tem o registro profissional. Isso não é a associação que fornece. Então, junto ao Sindicato, temos que ver quais são os caminhos para que essa pessoa regularize sua situação, inclusive na delegacia regional de trabalho. A partir daí, ela pode se tornar um aspirante, porque dentro da DRT, o processo pode levar 90 ou 120 dias, mas ele já passou pelo crivo do Sindicato. Não podemos mais admitir a forma anterior: a pessoa vinha com algumas fotos publicadas e saía com uma credencial. A associação não pode viver de "venda de carteirinha". O profissional tem que pagar a associação por ela ser séria, por estar brigando pela categoria. Mas sabemos que documentação também é ferramenta de trabalho. Muitas vezes, somente com ela se pode ter acesso a lugares que exijam a apresentação profissional.

O quê a associação pode oferecer aos associados?

Chiri - A ARFOC precisa fazer com que o profissional se sinta representado para que ele volte à associação. Nos últimos anos perdemos muitos associados. Para isso, temos que apresentar contrapartidas. Uma comissão já está montada e trabalhando para estabelecer convênios ao associado. Antes tínhamos apenas um convênio com laboratórios de fotografia; hoje já temos quatro, que oferecem até 30% de desconto. Também estamos conversando com seguradoras para conseguir planos especiais aos associados. Infelizmente, já descobriram que nosso equipamento é caro e há uma onda de assaltos aos repórteres-fotográficos. Recentemente, fiquei sabendo de uns cinco casos em que assaltantes seguiram o carro do jornal com motos para roubar o equipamento.  

Há projetos que envolvam estudantes de comunicação?

Chiri - Pretendemos estabelecer parcerias e convênios com universidades para que grandes profissionais, já comprometidos com a proposta, possam ministrar palestras. Essa ação tem três caminhos: despertar o interesse pela profissão em futuros repórteres-fotográficos, conscientizar os repórteres de texto de que não somos "lambe-lambes" e transmitir a missão da ARFOC. É um trabalho que trará resultados a médio e longo prazo. E, passando por essa área de informação, não esqueceremos dos grandes profissionais, mestres da fotografia, alguns ainda na ativa, outros não, para que façam palestras aos jovens. No início da minha carreira tive a honra de trabalhar no Diário Popular ao lado de pessoas que já tinham passado por cinco copas do mundo, que fotografavam para a Revista Cruzeiro, Manchete. Enquanto muitos pensavam "o que esse cara tá fazendo aqui", eu sentava ao lado deles, ouvindo seus "causos" e aprendi muito. Então temos que mostrar às pessoas não só o lado do sucesso, do glamour, mas as histórias de fracasso também. Muitos estiveram lá em cima, não souberam administrar e hoje, infelizmente, estão numa pior. O que levou a pessoa a isso? Acho que é um dever passarmos essa orientação.

Existe alguma ação para os associados que vivem e trabalham no interior do Estado?

Chiri - Há uma certa fragilidade em outras cidades, porque a associação sempre foi muito voltada à capital. Um dos nossos diretores é professor universitário no interior, João Rangel, já está montando comissões no interior do Estado. Queremos que todos os cursos que forem feitos na capital, também sejam levados ao interior, adequados às necessidades dessas pessoas.

Como está a associação em termos de receita?

Chiri - Ainda estamos esbarrando no problema financeiro que a associação enfrenta. O caixa está baixo e a perspectiva de receita é somente para o começo de 2005. Hoje estamos com uma base de 1.000 associados, mas apenas cerca de 150 deles são pagantes. Nesse primeiro momento, não queremos chamar um monte de gente para que se associem e paguem a mensalidade, porque a ARFOC ainda não está fazendo nada por eles. A idéia é mostrar trabalho para que esse seja um movimento natural.

Existe algum planejamento diferenciado para exposições?

Chiri - Por exemplo, no caso da foto retrospectiva 2004, já estamos elaborando um projeto para conseguirmos patrocínio dessa exposição em meados de fevereiro de 2005. É um projeto belíssimo, mas de nada adianta esperar chegar em janeiro com todo o material pronto e pedir patrocínio, como sempre aconteceu. Conversei com alguns diretores de marketing que já passaram pela ARFOC e me disseram o que acontecia: levavam o material às empresas, mas diziam para voltar no outro ano, porque a verba anual deles já estava destinada. Eles têm um planejamento definido e nós também temos que ter o nosso. Em muitas ações, o principal é termos organização e logística para dar encaminhamento. Não há nada mais gratificante aos profissionais do que ver o seu trabalho exposto. Todas as exposições feitas anteriormente pela ARFOC foram voltadas ao repórter-fotográfico, esquecendo-se dos repórteres-cinematográficos. Por que não fazer um livro e uma fita VHS junto? Ou um CD com imagens de diversas pessoas? Ou uma mostra fotográfica com um telão que exiba grandes matérias e imagens também?

De que forma a ARFOC pretende abastecer seus associados com informações? Há planos para veículos informativos?

Chiri - Devemos funcionar como uma vitrine para os associados. O site ideal tem que ser capaz de mostrar todos os profissionais na página para qualquer pessoa, em qualquer lugar do país, que queira contratar um profissional em São Paulo, possa, ao clicar sobre o nome da pessoa, encontrar um currículo e um portfólio. Isso vai dar muita transparência, porque não é a associação que indicará um ou outro profissional. A escolha fica por conta do próprio contratante. Muitos fotógrafos podem não ter condições de manter um site próprio, mas terão como mostrar seu trabalho pelo site da associação. Além disso, teremos informações gerais sobre as atividades da associação e uma área para classificados. Também pretendemos que o site gere receita para a associação, com a comercialização de espaço para banners de empresas. Voltaremos também com o jornal Em Foco, num primeiro momento trimestral, para depois ser bimestral. Há uma comissão especial para isso, com um conselho editorial já formado. E fazemos questão de contratar profissionais exclusivos para isso: diagramador, jornalista responsável e pagaremos pelos direitos de utilização de imagens. Somente dando o exemplo é que se tem moral para cobrar das pessoas.

 
www.ojornalista.com.br - Todos os direitos reservados 2003 - por NetMarketing Soluções